sábado, 23 de outubro de 2010

Existencialismo era o ar que respirávamos


A paixão por não perder a essência da vida, isto é, por não a desperdiçar, intensificou-se na faculdade - o tumultuoso final dos anos sessenta. Havia fortes razões para isso, razões que vão muito além do furacão interior de um garoto chegando à maioridade. A "Essência" estava atacando quase que em todos os lugares. Existencialismo era o ar que respirávamos. E o significado de existencialismo era que "existência precede essência". Isto é, primeiro você existe e então, por existir, você cria a sua essência. Você faz sua essência escolhendo livremente ser o que você será. Não há essência fora de você a ser buscada ou para que você se conforme com ela. Chame-a de "Deus", ou "Significado", ou "Propósito" - ela não existe até que você a crie através da sua própria e corajosa existência. (Se você franzir a testa e disser, "Isso soa estranhamente parecido com os dias de hoje e com o que chamamos de pós-modernismo", não fique surpreso. Não há nada novo debaixo do sol. Há apenas reembalagens sem fim).

Eu me lembro de estar sentado em um teatro escurecido, assistindo à descendência teatral do existencialismo, o "teatro do absurdo". A peça era "Esperando Godot", de Samuel Beckett. Vladimir e Estragon encontram-se debaixo de uma árvore e conversam enquanto esperam por Godot. Ele nunca chega. Perto do fim da peça, um garoto conta-lhes que Godot não vai vir. Eles decidem partir, mas sem se mover. Eles não vão a lugar algum. A cortina cai e God[ot]1 nunca chega.

Aquela era a visão de Beckett de pessoas como eu - esperando, buscando, na esperança de achar a Essência das coisas, ao invés de criar minha própria essência com minha livre e desenfreada existência. A lugar algum - é para onde você está indo, ele concluiu, se você busca algum Ponto, ou Propósito, ou Foco, ou Essência transcendental.

1. Aqui, Piper separa a palavra Godot em duas partes, a primeira, "God" significa "Deus", em inglês. A segunda, "Dot", significa "Ponto", aqui significando propósito, foco ou essência. Assim, de acordo com Piper, Beckett insinuava em "Esperando Godot" que a esperança por uma Essência, Ponto, Propósito ou Foco exterior ao ser (ou à existência) era vã.

Tradução do trecho “Existencialism was the air we breathed”, extraído da página 14 do livro "Don't Waste Your Life" (Crossway Books, 2003) escrito pelo Pastor John Piper. Para fazer download do original em inglês, acesse: http://www.desiringgod.org/resource-library/online-books/dont-waste-your-life

terça-feira, 19 de outubro de 2010

"Os Anos Perdidos"

Eu havia esquecido o quanto essa pergunta era pesada para mim até que eu dei uma olhada nas minhas lembranças daqueles anos. Quando eu estava prestes a deixar a minha casa na Carolina do Sul em 1964, e nunca mais voltar como um morador, o colégio Wade Hampton publicou uma revista literária simples, com poemas e histórias. Próximo ao fim, com a assinatura Johnny Piper, havia um poema. Eu vou poupar vocês. Não era um bom poema. Jane, a editora, foi misericordiosa. O que importa para mim agora era o título e as primeiras quatro linhas. Ele era intitulado "Os Anos Perdidos". Ao lado, havia um desenho de um velho numa cadeira de balanço. O poema começava assim:

Durante muito tempo eu busquei pelo significado escondido da terra.
Durante muito tempo, enquanto jovem, minha busca foi em vão.
Agora, enquanto eu me aproximo dos meus pálidos últimos dias,
Minha busca eu devo começar novamente.

Através dos quarenta anos que me separam daquele poema, eu posso ouvir o temível refrão "Eu a desperdicei! Eu a desperdicei!" De alguma maneira foi despertada em mim uma paixão pela essência e pela razão principal da vida. A questão ética "se algo é lícito ou não" enfraqueceu-se em relação à questão "qual é a coisa principal, a coisa essencial?" O pensamento de construir uma vida ao redor de uma moralidade mínima ou uma significância mínima - uma vida definida pela questão, "O que é lícito?" - parecia quase que repugnante para mim. Eu não queria uma vida mínima. Eu não queria viver na periferia da realidade. Eu queria entender o que era o essencial na vida e o buscar.
Tradução do trecho “The Lost Years”, extraído da página 13 do livro "Don't Waste Your Life" (Crossway Books, 2003) escrito pelo Pastor John Piper. Para fazer download do original em inglês, acesse: http://www.desiringgod.org/resource-library/online-books/dont-waste-your-life

domingo, 17 de outubro de 2010

"Apenas uma vida, que logo passará"

Uma outra grande força em minha juventude - pequena no começo, mas que se tornou tão poderosa ao longo do tempo - era uma placa que ficava pendurada em nossa cozinha, acima da pia. Nós nos mudamos para aquela casa quando eu tinha seis anos. Assim, eu suponho que eu olhei para as palavras sobre aquela placa quase todos os dias por doze anos, até eu ir embora para a faculdade, aos dezoito. Era um pedaço de vidro simples, pintado de preto na parte de trás, com uma corrente cinza muito bem colocada ao seu redor, funcionando como uma borda e servindo para pendurar. Na parte da frente, em inglês arcaico, pintadas em branco, estavam as palavras:

Apenas uma vida,
que logo passará;
Apenas o que for feito
para Cristo permanecerá.

À esquerda, ao lado dessas palavras, estava pintada uma colina verde com duas árvores e um caminho marrom que desaparecia sobre a colina. Quantas vezes, como um menino e como um adolescente com espinhas, e desejos, e ansiedades, eu olhei para aquele caminho marrom (minha vida) e imaginei o que estaria sobre aquela colina. A mensagem era clara. Você tem uma passagem na vida. É tudo. Apenas uma. E o compasso dessa vida é Jesus Cristo. Eu tenho cinquenta e sete anos enquanto eu escrevo e aquela mesma placa está pendurada hoje na parede da frente da nossa casa, ao lado da porta. Eu a vejo toda vez que eu saio de casa.

O que significaria desperdiçar a minha vida? Essa era uma pergunta ardente. Ou, mais positivamente, o que significaria viver bem de maneira a não desperdiçar a vida, mas de maneira a ... ? Como terminar essa frase, essa era a questão. Eu não sabia nem ao certo como colocar a questão em forma de palavras, muito menos qual seria a resposta. Qual era o oposto de não desperdiçar a minha vida? "Ser bem-sucedido em uma carreira"? Ou "ser feliz ao máximo"? Ou "realizar algo grandioso"? Ou "encontrar o mais profundo significado e a mais profunda significância"? Ou "ajudar o maior número de pessoas possível"? Ou "servir a Cristo de maneira plena"? Ou "glorificar a Deus em tudo o que eu fizer"? Ou existiria um ponto, um propósito, um foco, uma essência na vida que realizaria cada um desses sonhos?
Tradução do trecho “Only one life, ’twill soon be past”, extraído da página 12 do livro "Don't Waste Your Life" (Crossway Books, 2003) escrito pelo Pastor John Piper. Para fazer download do original em inglês, acesse: http://www.desiringgod.org/resource-library/online-books/dont-waste-your-life