sábado, 3 de dezembro de 2011

Defendendo o brilho do sol do meio-dia


Nesse pântano de subjetividade apareceu um professor de Literatura da Universidade de Virginia, E. D. Hirsch. Ler o seu livro "Validade na Interpretação"*, durante os meus anos de seminário, foi como encontrar, de súbito, uma rocha sob os meus pés, na areia movediça dos conceitos contemporâneos sobre significado. Como a maioria dos guias que Deus enviou ao longo do meu caminho, Hirsch defendia o óbvio. Sim, ele argumentava, existe um significado original que o escritor tinha em sua mente quando ele escreveu. E sim, uma interpretação válida busca essa intenção no texto e dá boas razões para afirmar que a vê. Isso parecia tão óbvio para mim quanto o sol do meio-dia. Era a hipótese que todos assumiam como verdadeira, no dia-a-dia, quando falavam ou escreviam.

Talvez, ainda mais importante, isso parecia educado. Nenhum de nós quer que nossos escritos, e nossas cartas, e nossos contratos sejam interpretados de uma maneira diferente da qual os pensamos. Portanto, a educação básica, ou a Regra de Ouro, requer que leiamos os outros da maneira que gostaríamos que fôssemos lidos. Parecia-me que tanta discussão filosófica sobre o significado era pura hipocrisia: na universidade, eu destruo pouco a pouco o significado objetivo, mas em casa (e no banco) eu insisto em sua existência. Eu não queria fazer parte desse jogo. Parecia uma vida completamente desperdiçada. Se não existe interpretação válida alguma baseada em realidade objetiva, imutável, significado original, então todo o meu ser dizia "Vamos comer, beber e nos alegrar. Mas não vamos levar a sério essa educação que recebemos, de jeito nenhum." 

* "Validity in Interpretation"

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