sábado, 3 de dezembro de 2011

Aprendendo a não perder a cabeça

A batalha para aprender o óbvio continuava. O novo golpe de realidade  - o fato de que existe uma realidade real objetiva exterior a nós mesmos que pode ser verdadeiramente conhecida - transformou o estudo da Bíblia em um pântano de subjetividade. Isso podia ser visto na igreja, onde pequenos grupos compartilhavam suas impressões subjetivas sobre o que textos da Bíblia significavam "para mim" sem uma âncora em qualquer significado original que fosse.

Se há apenas uma vida a ser vivida neste mundo, e se ela não deve ser desperdiçada, nada parecia mais importante para mim do que descobrir o que Deus realmente queria dizer na Bíblia, já que ele inspirara homens para escrevê-la. Se isso estava ao alcance de todos, então ninguém podia dizer ao certo qual vida vale a pena e qual vida é desperdiçada. Eu estava aturdido com os joguetes do mundo erudito, com seus autores usando todos os seus poderes intelectuais para anular o que eles mesmo escreviam! Ou seja, eles expressavam teorias do significado que argumentavam que não existe um único, válido significado num texto. Pessoas comuns lendo esse livro irão (eu espero) achar isso inacreditável. Vocês não estão errados. De fato, é inacreditável. Mas, até hoje, a verdade é que professores bem pagos e bem nutridos recebem o dinheiro de mensalidades e impostos para dizer que "já que a literatura não transmite com precisão a realidade, a interpretação literária não pode transmitir com precisão a realidade que é a literatura".

Em outras palavras, já que nós não conseguimos conhecer a realidade objetiva exterior a nós mesmos, tampouco pode haver significado objetivo naquilo que escrevemos. Portanto, interpretar não significa tentar achar algo objetivo que o autor tenha colocado no texto, mas simplesmente significa que nós expressamos ideias que adentram nossa cabeça à medida que lemos. O que não faz diferença alguma, porque, quando outros lerem aquilo que escrevemos, eles tampouco terão acesso à nossa intenção. Não passa de um jogo. Só que é sinistro, porque todos esses eruditos (e membros de pequenos grupos) insistem que suas próprias cartas de amor e contratos devem ser medidos por uma régua: o que eles pretendiam dizer. Ninguém que tenha criativamente ouvido "sim", quando, na verdade, eu escrevi "não", será levado a sério por um banco ou por um conselheiro matrimonial.

E então o Existencialismo veio fazer morada na Bíblia: Existência precede essência. Ou seja, eu não encontro significado - eu o crio. A Bíblia é uma massa de argila informe e eu sou o oleiro. Interpretação é criação. Minha existência enquanto indivíduo cria a "essência" do objeto. Não ria. Eles falavam sério. Eles ainda falam. Hoje em dia, apenas os nomes são outros.

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