sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

C. S. Lewis - O homem que me ensinou a enxergar


De fato, eu agradeço a Deus por professores e escritores que devotaram energias criativas tremendas para fazer credível a existência de árvores, e água, e almas, e amor, e Deus. C. S. Lewis, que morreu no mesmo dia em que morreu John F. Kennedy em 1963 e que lecionava Inglês em Oxford, apareceu no horizonte do meu pequeno caminho marrom em 1964, com um brilho tão ardente que é difícil deixar de falar sobre o tamanho impacto que ele teve em minha vida.

Alguém me apresentou ao Lewis no primeiro ano do Ensino Médio (antigo 2º Grau), com o livro "Cristianismo Puro e Simples"*. Nos cinco ou seis anos que se seguiram, eu quase nunca estava sem um livro do Lewis por perto. Eu acho que sem a influência dele, eu não teria vivido a minha vida com tanta alegria ou utilidade como vivi. Há razões para isso.

Ele me tornou alguém cauteloso quanto ao esnobismo cronológico. Isto é, ele me mostrou que o novo não é virtude e que o velho não é vício. Verdade, e beleza, e bondade não são determinadas por quando elas existem. Nada é inferior por ser velho e nada tem valor em si por ser moderno. Isso me libertou da tirania da novidade e abriu para mim a sabedoria das eras. Até hoje, eu recebo a maior parte da minha nutrição espiritual dos séculos passados. Eu agradeço a Deus pela demonstração convincente do óbvio feita por Lewis.

Ele me demonstrou e me convenceu de que lógica rigorosa, precisa, penetrante não se opõe a sentimento profundo, comovente e imaginação vívida, alegre - até mesmo divertida. Ele era um "romântico racionalista". Ele combinava coisas que quase todo mundo hoje em dia presume serem mutuamente exclusivas: racionalismo e poesia, lógica fria e sentimento quente, prosa disciplinada e imaginação livre. Esmagando esses antigos estereótipos, ele me libertou para pensar muito e escrever poesia, para argumentar a favor da ressurreição e compor hinos para Cristo, para destruir um argumento e abraçar um amigo, para pedir uma definição e usar uma metáfora.

Lewis deu-me um senso intenso de "realidade" das coisas. A preciosidade disso é difícil de transmitir. Acordar de manhã e estar ciente da solidez da matéria, do calor dos raios do sol, do som do relógio em seu tique-taque, o puro existir das coisas. Ele me ajudou a me tornar vivo para a vida. Ele me ajudou a enxergar o que há no mundo - coisas que, se nós não tivéssemos, nós pagaríamos um milhão de reais para ter, mas, uma vez as tendo, nós as ignoramos. Ele me tornou mais vivo para a beleza. Ele pôs minha alma atenta para o fato de que existem maravilhas diárias que despertariam louvor se apenas eu abrisse os meus olhos. Ele sacudiu minha alma que cochilava e jogou a água gelada da realidade na minha cara, de modo que vida, e Deus, e céu, e inferno invadiram o meu mundo com glória e horror.

Ele expôs a oposição intelectual sofisticada da existência objetiva e do valor objetivo à loucura nua que ela era. O rei filosófico da minha geração não vestia roupa alguma e o escritor de livros para crianças de Oxford tinha a coragem de dizê-lo.

Você não pode seguir "vendo através" das coisas para sempre. O objetivo de olhar através de alguma coisa é o de ver algo através dela. É bom que a janela seja transparente, porque a rua ou o jardim do outro lado são opacos. E se você visse através do jardim também? Não há sentido em tentar "ver através" de primeiros princípios. Se você vê através de tudo, então tudo é transparente. Mas um mundo completamente transparente é um mundo invisível. "Ver através" de todas as coisas é o mesmo que não ver.
Oh, quanto mais poderia ser dito sobre o mundo como C. S. Lewis o enxergava e sobre o jeito que ele falava. Ele tem suas falhas, algumas delas sérias. Mas eu nunca cessarei de agradecer a Deus por esse homem notável que apareceu no meu caminho no momento certo.

* "Mere Christianity"

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